Notícia na íntegra
Projeto integra crianças surdas aos bons hábitos alimentares e temas de sustentabilidade
No colorido tradicional de uma unidade de educação infantil, o verde se destaca na Escola Municipal de Educação Bilíngue para Surdos (EMEBS) Anne Sullivan, na Chácara Santo Antônio, Zona Sul da capital. Plantar, cuidar, colher, cozinhar e compostar faz parte da rotina e da grade curricular dos alunos. Todas as quartas-feiras à tarde turmas mais novas (até o 4º ano) trabalham na horta, que fica em um dos pátios da escola. Para as turmas maiores (do 5º ao 8º ano), o encontro ocorre na manhã da última sexta-feira do mês.
O cultivo é variado: hortícolas, legumes, ervas medicinais e aromáticas, temperos e algumas frutas. Além da preparação e plantio, rega e manutenção, limpeza dos canteiros e manejo da composteira, os alunos também participam de dinâmicas temáticas sobre reciclagem, dengue, fauna urbana, florestas e ciclo da água.
A iniciativa nasceu de uma ideia da nutricionista Taís Camargo, que integra a equipe da UBS Chácara Santo Antônio. O ano era 2022, nos pós pandemia de Covid-19. inicialmente, em abril daquele ano, ela apresentou o projeto à diretoria da escola para conhecer o espaço e entender os hábitos alimentares dos estudantes; em seguida, entrou em contato com a equipe do Programa Ambientes Verdes Saudáveis (PAVS), da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), para apoio técnico e fornecimento de mudas. Em setembro, Taís e as crianças iniciaram o plantio, integrado ao plano pedagógico da professora bilingue Flávia Damasceno.
Flávia ressalta a interdisciplinaridade das aulas. “Além do estímulo sensorial, as aulas na horta reforçam o aprendizado da Língua Portuguesa escrita e de Libras, utilizando as cores e nomes de alimentos; já a contagem de ingredientes e quantidades nas receitas nos ajudam na matemática, e as atividades de reciclagem, prevenção da dengue, animais sinantrópicos e ciclo da água integram os conteúdos de ciências”, explica, enfatizando ainda o envolvimento familiar no processo. “Os pais já participaram de uma palestra sobre alimentação saudável e consumo de ultraprocessados”, comenta.
O projeto tem dado tão certo que em 2024 a horta recebeu uma expansão física muito significativa. O canteiro lateral que beirava o muro da escola com plantas ornamentais foi transformado para receber ervas e temperos; além disso, o “quintal” da escola também ganhou um novo canteiro e foi instalada uma cisterna de captação de água da chuva. O ambiente educativo ganhou ainda uma “sala verde” coberta, como extensão pedagógica ao ar livre, e a compostagem foi implementada, fechando o ciclo de resíduos orgânicos.
Na cozinha da escola: experimentando sabores (Acervo/SMS)
Culinária pedagógica
Na aula realizada no último dia 13 de agosto, a atividade de Taís junto com os alunos envolveu plantio e rega de sementes de rabanete e acelga vermelha, além da colheita de melissa (erva cidreira) para o preparo de um chá, que foi servido com biscoitinhos de aveia e banana amassada preparados na cozinha da escola, uma atividade interativa que trabalhou aspectos como classificação de alimentos saudáveis e de consumo restrito e uma dinâmica sobre os sabores e funções dos alimentos.
No tempo que passa na EMEBS Anne Sullivan, a nutricionista também desenvolve a culinária pedagógica, elaborando receitas a partir das colheitas na horta. Assim, as crianças provaram o “peixinho” de folha, fizeram omelete com taioba e ora pro nóbis, a couve foi protagonista de um cardápio de merenda inspirado na feijoada, promovendo experimentação, que comprovadamente acaba caindo no gosto da maioria. A nutricionista destaca que as crianças ficam curiosas para descobrir os sabores.
“A culinária participativa é uma ponte de aceitação”, resume. “O que criamos conjuntamente faz parte de uma aprendizagem colaborativa e convidativa, eles são convidados e não forçados, respeitamos os gostos; eles sempre querem cheirar as plantas, por exemplo, e quando a gente faz alguma receita, estão sempre muito abertos a experimentar”, destaca a nutricionista. “Alguns, às vezes, apresentam algumas resistências, mas quando eles acompanharam todo o processo, desde do plantio, da colheita, do fazer, isso ajuda mais a aceitação desse alimento”.
A equipe do PAVS que atua no território, por sua vez, leva à escola alimentos que, às vezes não são encontrados na feira, como as PANCS (plantas alimentícias não convencionais). “O peixinho e a vinagreira são dois exemplos, e assim eles vão descobrindo outros sabores, muitos comiam só arroz por não conhecer ou não ter a oportunidade de experimentar”, diz Deborah Monnerat, gestora do PAVS na região SACA (Santo Amaro e Cidade Ademar), que acompanha 12 hortas municipais.
Ela explica que para atender aos alunos com necessidades específicas e reforçar os vínculos, são sempre os mesmos profissionais que participam das aulas. Além dela e da nutricionista Taís, interagem com as crianças a farmacêutica Luciana Mendes, também da UBS Chácara Santo Antônio, os agentes de promoção ambiental (APAs) Marcelo Garcia, da UBS Vila Arriete, e Luana Balarrone, da UBS Jardim Aeroporto.
As atividades contemplam ainda sessões de aromaterapia para apresentar ervas medicinais e técnicas de relaxamento além de passeios a parques e à própria UBS Chácara Santo Antônio. “Em resumo, de uma ‘aula de horta’ temos hoje um projeto mais amplo de sustentabilidade, meio ambiente e alimentação saudável, em que crianças surdas e algumas com outros distúrbios concomitantes reverteram a baixa aceitação a alimentos como hortaliças e tornaram-se agentes de preservação do meio ambiente, inclusive levando os exemplos de práticas mais saudáveis e conscientes aos seus familiares”, comemora Taís neste 31 de agosto, Dia do Nutricionista.
SECOM - Prefeitura da Cidade de São Paulo
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