Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente
Especialista aborda a dimensão social na comunicação de riscos ambientais
Até que ponto a mídia tem contribuído ao comunicar riscos ambientais? Foi esse o tema da jornalista Cilene Victor durante a 75ª reunião do Comitê do Clima e Ecoeconomia, realizado na terça-feira, 23 de setembro, na sede da Universidade Aberta do Meio Ambiente e Cultura de Paz (UMAPAZ), no Ibirapuera. O evento foi aberto pelo secretário adjunto da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA), Ricardo Viegas, que destacou as ações da pasta voltadas para a mitigação das mudanças climáticas.
Em sua apresentação, intitulada “A dimensão social das mudanças climáticas na perspectiva da comunicação de riscos”, a jornalista defendeu um modelo midiático no qual a comunicação de risco deve ser vista de forma ampla, para envolver os diversos atores sociais e esferas públicas, além da mídia. “A mídia está acostumada a dar a notícia, e só voltará a ela quando a catástrofe se repetir”, exemplifica.
Ela lembra que várias dessas situações envolvem não apenas perdas materiais, como humanas, e que, em saúde pública, óbitos decorrentes de desastres ambientais são evitáveis. Ao afirmar que as mudanças climáticas também envolvem mortes, perdas materiais e sofrimento humano em grande escala, defende a cultura da prevenção e redução de desastres, algo já previsto no Marco de Sendai adotado pelo Brasil em 2015.
Soluções
Cilene propõe uma metodologia na qual se utiliza um modelo comunitário de comunicação de risco, direto, envolvendo instituições competentes (defesa civil, governos e instituições correlatas), mídia e comunidade para visitas aos pontos vulneráveis antes que os problemas aconteçam. “Os desastres vão se tornar cada vez mais intensos e frequentes em decorrência das mudanças climáticas. São dados científicos”, prenuncia. Ou seja, o trabalho seria direcionado para a orientação das minorias vulneráveis aos desastres, orientando-os sobre como entender os sinais e como lidar com a situação.
A jornalista lembra que é preciso pensar na comunicação para a redução de riscos de desastres, e não no desastre. “O modelo existente e suas ferramentas são obsoletos. A Lei 2.608 de 2012, que institui a política nacional de defesa e proteção civil, foi aprovada, mas ainda não regulamentada, e já está ultrapassada: é anterior ao Marco de Sendai (2015), ao Acordo de Paris (2016) e à própria Agenda 2030 (2015). Precisamos trabalhar com a cultura da prevenção e redução de desastres sem esperar que ele aconteça. Do contrário, ele entrará no véu do esquecimento e será preciso um novo desastre para o tema voltar à pauta do noticiário”, conclui.
Escolhas
Jornalista por formação com 30 anos de profissão, Cilene publicou seu primeiro texto em 1989, na área de saúde e fez sua primeira grande reportagem sobre meio ambiente em 1991, que abordava um desastre tecnológico na baixada santista. “Menina de vinte e poucos anos, percebi que todos os anos eu cobria a mesma pauta, com o mesmo acidente. Notei que meu trabalho era escasso, insipiente, incapaz de alterar essa realidade”, comenta.
Foi quando decidiu fazer seu Mestrado (Universidade Metodista) em jornalismo ambiental e, a seguir, procurou o desafio de outra ciência, buscando no Doutorado em saúde pública. Foi então apresentada a um tema, “Comunicação de Risco”, que o seu orientador havia conhecido há pouco nos Estados Unidos. “Foi o primeiro doutorado no Brasil nessa área, 18 anos atrás, e não parei mais”, sintetiza.
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